Descrição
A vitrola amolava uma música antiga. Não havia no ambiente sinal algum de que alguém estivesse na casa. No quarto, Charles arrumava uma pilha de discos na estante e se prendia a algumas lembranças da infância. Via sobre a escrivaninha as fotos com a mãe. Recordava dos passeios no parque com o avô. E principalmente do pai, de quem herdaria os LPs.
O pai era dono de um sebo no Centro da cidade. Arnaldo. Um homem gordo e calvo que parecia um gerente de banco e se emocionava com quase tudo. Vendia livros e discos antigos, negociados a peso de ouro com cada comprador. Tinha dificuldade em se despedir dos objetos. A cada manhã espanava e limpava todo o acervo, exigindo dos funcionários um cuidado tremendo no manuseio das mercadorias. Era filiado ao Clube do Vinil, onde homens da mesma idade se encontravam para trocar impressões sobre os bolachões. Para alguns, os funcionários da loja eram gente da família, como Procópio, antigo guitarrista do I Don’t Have Mind.
O pai de Charles conhecera sua mãe numa excursão à Chapada Diamantina na década de 70. Acabaram se casando num cerimonial de invocação dos elementos onde que todos bebiam um chá para alterar a consciência.
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