Descrição
Ela abriu os olhos. Ficou olhando para o teto por quase dez segundos. Podia jurar que aquela estrutura rígida, branca de concreto estava se derretendo sob sua cabeça, que doía. “Mais uma noitada regada a gim como a de ontem e eu não levanto da cama jamais”, pensou. Ela tinha outros motivos para não querer sair dali: a dor aguda cortando seu coração, as lembranças de tudo aquilo que poderia ter sido doce. Cantou baixinho, como se estivesse delirando: “Please could you stay a while to share my grief. For it’s such a lovely day. To have to always feel this way. And the time that I will suffer less. Is when I never have to wake”…
Lentamente se levantou e caminhou até o banheiro. Mirou-se no espelho. Não entendia por quê aquelas lágrimas não paravam de cair. “Um mês se passou. Eu já tinha que estar legal”, mentalizou. Para distrair-se, tirou o creme do armário. Com um chumaço enorme de algodão nas mãos esfregou os olhos marcados pelo rímel e lápis pretos que estavam ali desde a euforia anterior à festa e que agora representavam um daqueles borrões decadentes típicos de personagens junkies de filmes alternativos. Lavou o rosto, prendeu os cabelos desgrenhados. Eles pediam um corte, uma aplicação de tintura. Mas quem disse que ela estava se importando com a aparência?
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