Descrição
– Levanta! Tá na hora!
O maestro Pimenta bem que tentou abrir os olhos, mas só conseguiu emitir um grunhido sonolento. Em resposta à falta de perseverança, sua impaciente esposa Rita deu-lhe um safanão na ponta da orelha, utilizando termos bem menos jocosos.
– Levanta, seu vagabundo! Alguém tem que pôr comida nesta casa!
Pimentinha fez o que pôde, apesar da cortina de remela que lhe nublava a visão. Seu bom dia não obteve resposta. Como sempre.
– O café tá na mesa! Antes de sair, lava a louça, a roupa, tira o mato do quintal e leva o cachorro pra passear.
A batida da porta encerrou o “bom dia” nunca respondido. Há anos o casal restringia o diálogo ao fundamental. Pimenta, o velho sargento reformado e músico pra toda obra, amava a mulher e acreditava que ela ainda o amava do jeito dela. Através da janela pouco translúcida viu a esposa pegar carona com alguém. Pimenta perguntara um par de vezes quem era o motorista, sempre vestido com terno quadriculado e gravata borboleta.
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