Descrição
Fazia quase um ano que Patrícia andava com um caderno
vazio na bolsa. A primeira vez que o abriu foi um dia depois de
tê-lo comprado em Londres. Seu décimo segundo passo na Millenium
Bridge em direção ao Tate Modern tinha sido interrompido
pelos sinos da Saint Paul. Aquela imensa construção de metal.
Obstáculo ou moldura? Gravou mentalmente “onze passos e
meio” e pegou a caneta na bolsa.
O que restou daquela travessia foi a palavra “unframed”
escorrida em devaneios e pingos grossos de chuva.
Patrícia tentava encontrar algum sentido naquele vestígio
de uma história construída sobre um grande hiato de folhas em
branco. Havia, de fato, construído alguma história? De que maneira
sua memória contava isso meses depois? Era meio estranho.
Na sua cabeça, a garoa de Londres sempre chegava pela janela
antes mesmo de ela sair da cama. Dureza levantar naqueles dias
de chuva fina e constante. Água que nunca chegava no meio do
nada, perdida nos teclados e vocais embaralhados de “Back in
Time”. Era essa sua lembrança daquela tarde de verão.
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