Descrição
Escrever foi meu escape mental para o buraco em que vivia. Não é o melhor que já fiz – não falarei picas sobre isso -, mas me serve e isso já é algo. Quando meu padrasto batia em minha mãe, a única coisa que poderia fazer era escrever. Num caderno escolar, apontava uma a uma todas as formas de assassiná-lo. Eram assassinatos singelos, precários. Destroçar-lhe o crânio a marteladas. Arrancar o cérebro pelos buracos dos olhos com um garfo. Picá-lo a machadadas no banho…
Estou seguro de que escrever evitou o pior.
Os evangélicos batiam na porta de casa com seus livrinhos e suas revistinhas Atalayas, tentando salvar-me do Inferno. Eu abanava minha cabeça pela janela e gritava “fora daqui, esta casa é do Demônio”. Suponho que isso foi uma infância difícil para um poeta. Mas os poetas morrem rápido e o planeta continua se enchendo de imundices. Só se aferre a sua própria jangada de porcarias e se converta num porco agourento do seu destino.
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