Descrição
Toda vez que vejo a enorme cicatriz no ombro de Amy me vem um gosto
amargo à boca: aquela foi a noite mais triste e trágica de toda a droga da
minha vida, mas não gostaria de varrê-la do passado. Meu maior desejo seria
que inventassem logo uma engenhoca para que eu pudesse viajar no tempo e
mudar aquela noite, a noite de catorze de abril de 67.
Agora, além de Amy estar parada bem embaixo do lustre enquanto revira
a bolsa à procura das chaves do carro usando essa blusa sem mangas — que
deixa a droga da cicatriz bem à mostra —, como se não bastasse essa bandeira
desfraldada na minha cara, ainda por cima está passando na TV um programa
sobre o “grande” Eric Clapton — e, graças a todos os deuses pagãos, ela não
percebeu.
Estou com esta mulher desde 65 e em todos esses anos ela se despede de
mim da mesma maneira: mandando dois beijinhos estalados; não sei como
sua boca não se encheu de pregas de tanto executar o mesmo movimento e,
quer saber?, estou pouco me lixando.
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