Descrição
Acordei nu no meio de um mato denso e não soube responder o que havia usado nem o que eu fazia ali. Havia um chapéu desconhecido em meu peito e aquilo me preocupou. Lembrei-me, não sei como, de um encontro com meu avô. O velho transpirava seus últimos dias de romance, de alegria e de alcoolismo. Já muito abalado por um peiote que comi no café da manhã, encontrei-o e conversamos sobre sua morte. Os outros parentes odiavam fazê-lo, mas eu enquanto transtornado neto dava conselhos e ajudava a escolher as cores das flores. Vomitei uma vez na frente do velho, sem nenhum constrangimento. Ele me convidou para um passeio de Ferry Boat, irmos até o outro lado da ilha e voltar, simplesmente. No caminho de ida ele me falou de uns amigos que estavam indo para a Índia encontrar um guru e que eu devia fazer algo a respeito, pois eles voltariam com novidades suficientes para superar qualquer coisa que eu fizesse. Minha resposta foi a segunda maré de vômito da manhã. Meu coração havia de não necessitar a Índia. Em menos de 15 minutos, todas as pessoas no barco começaram a se incendiar e meu avô se envolveu numa briga com um bêbado que eu cismei parecer Paco, el andino. Paco era o rei da mescalina e dizia o efeito do cactus durar “toda la vida”. Eu sempre achei o mesmo. O capitão que cheirava a milho ou enxofre nos expulsou do Ferry Boat. No auge da lucidez de meu peiote eu perguntei: – Isso implica em pularmos no mar? – E ele respondeu afirmativamente. Nadei com meu avô por quase dez minutos antes de deitarmos nas areias redentoras da baixa Califórnia, no meio das milhões de gargalhadas derradeiras que tivemos e de minha terceira onda de vômito. O velho disse que queria ir para casa e sem dizer uma palavra lhe respondi que a nossa casa era aquela areia e velha-triste Califórnia.
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