44. PATO FU – TODA CURA PARA TODO O MAL POR LUCIANO BRANCO

Descrição

ANORMAL

Ainda me lembro do nosso primeiro encontro, foi num barzinho que freqüentávamos. Ela havia chegado atrasada e na pressa de se desculpar e cumprimentar a todos, deixou cair sobre a mesa alguns livros que segurava. Um deles caprichosamente foi de encontro a um copo de cerveja que tombou sobre mim.
Enquanto tentava em vão secar meu jeans, ainda de cabeça baixa, comecei a falar sobre a “Livre Iniciativa”, aquela prática de deixar livros abandonados em bancos ou estações do metrô, para que outras pessoas possam ler e repassar. Fui interrompido delicadamente.
— Eu não faria isso com este livro porque ele pertence à biblioteca da escola da minha irmã e também por que não quero ver o meu nome associado a uma possível proliferação deste tipo de leitura. Isso aqui é Paulo Coelho!
Eu sorri sem graça e não pude deixar de ficar vermelho, mas confesso que gostei do que ouvi. Realmente, a primeira impressão não deve ser a que fica.
— Você deve ser o Roberto. Prazer, eu sou a Luciana “Ventania”, — brincou. — Me falaram a seu respeito.
— Também me falaram sobre você.
— Pô! Cheguei meio afobada, me desculpe pelo banho de cerveja.
Balancei a cabeça fazendo sinal de que não ligava. Apertei sua mão pressentindo que poderíamos nos dar bem. Olhei bem no fundo de seus olhos e também não pude deixar de notar os seus lábios, a pele alva, os cabelos lisos até a altura dos ombros, o corpo mignon bem modelado coberto por um daqueles vestidinhos floridos.
Fora o fato de que eu andava sumido nos últimos meses, tínhamos outros motivos para estar reunidos naquela noite no bar. O Rique ainda tentava encontrar uma garota para escutar com ele seus discos de jazz, Nanda ainda sonhava em conhecer alguém interessante pra ficar, eu mais uma vez iria tentar reverter a grana investida numa boa noitada. A Luciana, ao longo da noite, nos deixaria saber sobre a sua obsessão por ler as tirinhas do Garfield nos jornais e que assim que terminasse de pagar algumas dívidas iria destrancar a faculdade de Comunicação, mas que continuaria trabalhando na loja de instrumentos até conseguir algo melhor.