Ter mais de trinta e ser alfabetizado no convívio social do esprit levam a degenerações, levam a Ivan. No pós-tudo vivido entre as décadas de 1980 e 1990, uma geração de novos losers se formou. Losers no sentido Bukowski e Hunter Thompson, veja bem, no sentido pós-desbunde chatinho. Uma geração cética até a raiz dos cabelos, com a cara blasé comprada na loja de 1,99, tão convincente quanto a máscara de Nixon usada para assaltos em filme B. Dá vontade de rir, dá raiva, e acabamos nos metendo na mesma enrascada de Ivan. Na falta do que fazer, nos rendemos à mãe de todos os clichês: surge a velha cara blasé.
Ivan tem sentimentos, é um romântico de carteirinha, mas desenvolveu coberturas e mais coberturas, cascas sobre cascas sobre cascas e, agora que o mormaço bateu na nuca, já não sabe onde enfiou a camiseta confortável de viver.
Danilo Corci, neste primeiro livro da MOJO, faz o retrato de uma geração especialista em generalidades, que finge ter perdido o bonde do romantismo em listas hornybinianas, mas esconde esqueletos de rosas bregas no armário.
Texto para ler sozinho e acompanhado de uma antropologia de botequim, que nos é cara, que faz os desavisados acreditarem. Texto para ler aos goles e devagarinho, para perceber as brincadeiras lingüísticas finas, as referências escondidas como Wallyes listrados no meio do emaranhado da narrativa bem amarrada.
Texto para ler como quem ouve música dirigindo à noite. Quando se É (do verbo SER, caixa alta) simplesmente. Quando só os acordes bastam para respirar uma solidão inteiriça e, por que não dizer, reconfortante.
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